No primeiro cigarro, Gabi exibe a marca no braço deixada por um chileno nestes dias de Copa do Mundo no Brasil.
“Eu percebi que ele estava mal intencionado”, conta a uma colega, que não deve ter muito mais que os 19 anos (declarados) de Gabi. “Não pagou.”
Com um norte-americano e um australiano, ela teve mais sorte: pagaram sem nem sequer pechinchar. Mas isso não faz do megaevento esportivo motivo de comemoração para essa garota de programa de R$ 500.
“Sinceramente, não mudou nada. A gente esperava um público maior”, diz, à porta de um dos inferninhos da Rua Nestor Pestana, no centro de São Paulo.
Longe das luxuosas casas noturnas em que só a entrada custa algumas centenas de reais, a Copa do Mundo tem sido melancólica para a prostituição paulistana – Gabi acende o segundo cigarro em 15 minutos, acaricia o estômago forrado.
Para ela, é só uma esperança frustrada. Para Perninha, gerente de outra casa no local, o marasmo é prejuízo. Mais do que para qualquer time, ele torce é para que a Copa lhe traga de volta dos R$ 200 mil investidos em ações de marketing, aquisição de carros para levar e trazer os turistas dos hotéis, e outras estratégias.
“Nem parece que é Copa”, diz. Estrangeiros há, “mas eles gastam 50% menos que os brasileiros no bar. Entram e vão fazer o programa. E como o ganho da casa é o bar…”
Nivaldo, responsável pelo trintenário Skorpios, fecha os punhos.
“Quatro ou cinco sempre aparecem [por noite]. Mas vêm assim, ó”, conta. “Fórmula 1 é bem melhor.”
Trocaram o sexo pelo bar
Para quem vende o corpo na rua, a Copa só fez elevar a concorrência pelo bolso dos clientes. Sheila, que cobra “R$ 300, R$ 200, depende”, lamentava-se de ter trocado Manaus pela rua Major Sertório, ponto de travestis.
“Esses grupos não estão gastando com prostituição. Diz-se que estão gastando nos bares, hotéis”, conta. “Eu estava numa expectativa incrível.”
A esperança e a frustração são as mesmas na esquina das ruas Bela Cintra e Fernando de Albuquerque, onde ficam garotas como Ísis (nome fictício), de 27 anos, R$ 150 por programa só até terminar a faculdade de Direito.
“Mudou para pior. Dizem que os gringos não vêm para a rua e os que vêm não têm dinheiro”, diz a morena, que de cinco a seis, passou a ter de três a quatro clientes por noite na Copa. “Devido aos jogos, eles vão para barzinhos”.
Num ponto um bocado mais escuro, na rua Haddock Lobo, e um bocado mais velha que Isis, Jaque calcula a queda no faturamento em uns R$ 2 mil neste junho excepcional na História brasileira.
“Houve um site que orientou os estrangeiros a tomar cuidado com a prostituição de rua”, conta. “E até os nossos brasileiros estão gastando mais em bares”.
Duda, do mesmo ponto, resume: bom mesmo é quando elas são a balada.
“O melhor para a gente é quando não tem festa nenhuma.” (iG)